sábado, julho 23

Saber Perdoar


Quando falamos em perdão, pensamos logo nos nossos inimigos, pensamos o quanto é difícil para nós passarmos a borracha do esquecimento sobre agressões, calúnias, perseguições, sejam elas no campo carnal ou espiritual. Mas, nos esquecemos de um factor importante: o inimigo nos fere e vai embora, fica distante.  

Perguntamos então, quantas vezes vamos perdoar os nossos amigos? Aqueles que estão perto de nós e perto de nós permanecem, aqueles que, muitas vezes, nos magoam, aqueles que, em vários momentos em que precisávamos de auxílio nos negaram, ou a quem nós oferecemos auxílio e foram ingratos. Esses permanecem connosco. Então, é preciso uma grande dose de benevolência, de compreensão, para que os amigos continuem amigos e continuem juntos de nós. Que as coisas pequeninas sejam esquecidas em prol das grandes coisas que, em conjunto, podemos realizar com as pessoas queridas.
Assim, como somos obrigados a desculpar tantas situações dentro de nossa família, porque não podemos nos desprender desses elos biológicos, e sejamos, também, capazes de compreender os amigos, esses que, num instante de invigilância, de imprudência ou, às vezes, até assediados por entidades perseguidoras ou por problemas de difícil solução interior, nos desferiram golpes. 
Em benefício dessa grande família espiritual, que nós saibamos relevar e conviver fraternalmente, sem emitir vibrações negativas, sem o processo de cobrança permanente, sem o falar imprudente. Que saibamos, realmente, fortalecer os elos de grandes amigos, porque aqueles que caminham juntos, ombro a ombro com Jesus, estão na mesma estrada, buscando o mesmo horizonte, com as mesmas situações de resolver problemas ou adquirir débitos.
Bezerra de Menezes


A Culpa é da S.P.A.

“ O maior vilão da qualidade de vida do homem contemporâneo não é o seu trabalho, nem a competição, mas o excesso de pensamentos”
 “Educar é ser um artesão da personalidade, um poeta da inteligência, um semeador de ideias.” - Augusto Cury

Professores stressados, alunos insubordinados, irrequietos, desmotivados, dispersivos... Por quê? Será que os mestres de hoje não possuem o “jogo de cintura” pedagógico dos mestres do passado, tão respeitados e idolatrados pelos alunos?! Estará faltando aos alunos a velha e boa educação de berço?!... Nada disso! Todos somos – mais ou menos – vítimas de uma doença dos tempos hodiernos chamada “Síndrome do Pensamento Acelerado” (S.P.A.).
 
Para entendermos esta síndrome e, consequentemente, podermos adoptar não só as atitudes correctas para erradicá-la ou pelo menos minimizá-la em seus corolários danosos e até mesmo para nos posicionarmos profilaticamente diante dela, vamos examinar o livro de um especialista da matéria. Estamos falando da obra: “Pais Brilhantes, Professores Fascinantes”, de autoria do psiquiatra-cientista Dr. Augusto Cury, editado pela Sextante, Rio, onde, especialmente na segunda parte, ele faz uma abordagem da síndrome, elucidando a respeito de suas causas e apresentando um rico cardápio de sugestões para obviar seus nefastos inconvenientes. Iniciemos pelas
 
Causas
A televisão mostra mais de sessenta personagens por hora, com as mais diferentes características de personalidade: Policiais irreverentes, bandidos destemidos, pessoas divertidas etc. Essas imagens são registadas na memória e competem com as imagens dos pais e professores. Os resultados inconscientes disso são graves: os educadores perdem a capacidade de influenciar o mundo psíquico dos jovens. Seus gestos e palavras não têm impactos emocionais e, consequentemente, não sofrem um arquivamento privilegiado capaz de produzir milhares de outras emoções e pensamentos que estimulem o desenvolvimento da inteligência. Os educadores precisam gritar para obter o mínimo de atenção. O pensamento acelerado reduz a concentração e aumenta a ansiedade. Aí está o “x” da questão: Os jovens são as maiores vítimas da S.P.A.
 
A ansiedade da S.P.A. gera uma compulsão por novos estímulos, numa tentativa de aliviá-la. Embora menos intenso, o princípio é o mesmo que ocorre na dependência psicológica das drogas. Os usuários de drogas pesadas ou consentidas (cigarro, álcool) usam sempre novas doses para tentar aliviar a ansiedade gerada pela dependência. Quanto mais usam, mais dependentes ficam. É um inexorável e letal círculo vicioso. Igualmente sofrem os portadores da S.P.A. Estão sempre na dependência de novos estímulos. Eles ficam irrequietos, se agitam na cadeira, têm conversas paralelas, não se concentram, mexem com os colegas, não suportam ficar assentados por muito tempo, estão sempre circulando como se estivessem procurando algo que nunca encontram... Mas todos esses comportamentos são, na verdade, tentativas de aliviar a ansiedade gerada pela S.P.A.
Mas não é tão-somente o excesso de estímulo visual e sonoro produzido pela TV que provoca a S.P.A. Esta, (a TV), é apenas a primeira causa. A segunda é o excesso de informações e a terceira é a paranóia do consumo. São causas que provocam uma espécie de ebulição mental interna, que se mantém sempre febricitante, não lhes oferecendo espaço de manobra para uma tranquila interiorização. Todas essas causas excitam a construção de pensamentos mal alinhavados, desordenados, que pulam dentro do cérebro como se fossem um bando de macacos agitados em intricada floresta, gerando uma psicoadaptação aos estímulos da rotina diária, ou seja: uma acentuada perda do prazer pelas pequenas coisas do dia-a-dia.   
Quem sofre da S.P.A. não consegue gerir os pensamentos plenamente, não consegue tranquilizar a mente, jamais se aconchega nas reconfortantes e dolorosas vibrações de uma sadia e tranquilizadora meditação ou oração.
 Não nos movendo nenhuma intenção de “colocar panos quentes” ou aconselhar a “vista grossa” ou ouvidos moucos ao comportamento indevido dos alunos, de um modo geral, fica aqui um pedido aos professores: Tenham mais paciência com seus alunos. Eles não têm culpa dessa agressividade, alienação e agitação em sala de aula. Eles são vítimas... Cada aluno carrega – na intimidade – um mundo a ser descoberto e explorado pela sagacidade do mestre fascinante que não se limita a simplesmente instruir, a “empilhar informações”, mas dispõe-se a educar, ou seja, conduzir para fora a jóia preciosa sob a ganga dos desatinos, fazendo brilhar a luz ínsita em cada personalidade.
Triste e lamentável actualidade
A educação está falida, a violência e a alienação social aumentaram... O modelo educacional do século passado, embora não fosse o ideal, funcionava porque a velocidade dos pensamentos dos jovens há um século era bem menor que o actual... O maior vilão da qualidade de vida do homem contemporâneo não é o seu trabalho, nem a competição, a carga horária excessiva ou as pressões sociais, mas o excesso de pensamentos. A S.P.A. compromete a saúde psíquica de três formas: ruminando o passado e desenvolvendo sentimento de culpa; produzindo preocupações sobre problemas existenciais e sofrendo por antecipação.
Estudos recentes revelaram que, no Brasil, 92% dos professores estão com três ou mais sintomas de stress e 41% com dez ou mais... É um número altíssimo, indicando que quase a metade dos professores não deveria estar em sala, mas internada numa clínica de repouso e recuperação
Que tipo de educação é esta que estamos construindo e que vem eliminando a boa qualidade de vida de nossos queridos mestres? Damos valor ao mercado de petróleo, de carros, de computadores, mas não percebemos que o mercado da inteligência está falindo!
 Buscando a solução
Actuar no aparelho da inteligência é uma arte que poucos aprendem... Ninguém se diploma na tarefa de educar, uma vez que o processo educacional jamais deverá se interromper. Um patamar vencido ensejo novos degraus de ascensão intelectual e educacional. Para o sucesso da acção educacional, tanto os pais como os professores precisam actuar de forma interactiva.
O Dr. Augusto Cury, na obra citada, elenca oito dicas importantíssimas para pais e mestres:
1. Eloquência e Fundamentação – Procurar conhecer o funcionamento da mente; transformar a informação em conhecimento e o conhecimento em experiência. Tal providência contribuirá para desenvolver: a capacidade de gerir os pensamentos, administrar as emoções, ser líder de si mesmo; trabalhar perdas e frustrações, superar conflitos;
2. Metodologia e Sensibilidade – Não basta didáctica apenas. Há que se falar com a voz e com os olhos. Portanto, a voz deve expressar emoção. Cultivando a emoção, estimula-se a concentração e alivia-se a S.P.A. dos alunos. Eles desacelerarão seus pensamentos e viajarão no mundo das ideias. Só assim haverá reversão do foco de interesses do “ter” para o “ser”, da estética superficial para o conteúdo, do consumismo materialista para as ideias transcendentais.
3. Inteligência Lógica e Emoção – Professores comuns educam a inteligência, mas os professores fascinantes educam a emoção, contribuindo para o desenvolvimento da segurança, da tolerância, da solidariedade, da perseverança, da protecção contra os estímulos stressantes, da inteligência emocional e interpessoal. Há que se enfatizar o conhecimento não só do mundo exterior, mas em especial do mundo íntimo do próprio ser, para que o aluno, conhecendo-se a si mesmo, possa interagir no mundo exterior de forma sensata e equilibrada.
 
4. Memória e Suporte – A arte de ensinar/educar não consiste tão-somente em “empilhar” informações nos cérebros dos alunos, mas saber usar a memória como suporte para a arte de pensar. O objectivo fundamental é formar pensadores e não repetidores de informações. A memória humana é um canteiro de informações e experiências para que cada um de nós produza um fantástico mundo de ideias.
5. Transitoriedade x Perenidade – Pais e mestres não possuem missão temporária, mas devem agir de forma tal a se tornarem inesquecíveis por seus tutelados... Ser um mestre inesquecível é formar seres humanos que farão a diferença no mundo. Portanto, não se pode descurar de desenvolver a sabedoria, a sensibilidade, a afectividade, a serenidade, o amor pela vida, a capacidade de falar ao coração, de influenciar pessoas. Lembremos que as informações são arquivadas na memória, mas as experiências são gravadas no coração.
6. Erradicar conflitos é melhor que corrigir – O professor comum apenas corrige comportamentos agressivos, mas o professor fascinante resolve, soluciona os conflitos em sala de aula. Este é um tema novo na área da pedagogia. É um novo e sadio posicionamento que contribui para várias coisas como: a superação da ansiedade, resolução de crises interpessoais, socialização, protecção emocional, resgate da liderança do “eu” nos focos de tensão. Entre corrigir comportamento e erradicar conflitos em sala de aula, há uma distância maior do que imagina a nossa nobre educação. O afecto e a inteligência curam as feridas da alma e reescrevem as páginas fechadas do inconsciente. Pais e mestres precisam – urgentemente – aprender a dar “tapas” com luvas de pelica, directo no coração. 
7. Profissão e Vida – Paralelamente à educação voltada para o aspecto profissionalizante, é necessário enfatizarem o preparo para a vida, que é um aspecto bem mais amplo... O caminho é contribuir para desenvolver a solidariedade, a superação de conflitos psíquicos e sociais, espírito empreendedor, capacidade de perdoar, de filtrar estímulos stressantes, de escolher, de questionar, de estabelecer metas... Promover a auto-estima objectivando a auto liderança. 
8. Flexibilidade no Trabalho e na Vida – Só não muda de ideia quem não é capaz de produzi-la. A flexibilidade e o posicionamento antidogmático, desapegado das tradições, devem merecer uma atenção especial de pais e mestres. Sob a acção de intensa ventania, o caniço se amolga, mas não se quebra porque é flexível, enquanto a árvore vetusta, enrijecida, vem abaixo. 
Há que se extrair de cada lágrima, de cada frustração, de cada limitação, uma lição de vida, conquistando, assim, os próprios lastros e referenciais. Se não reconstruirmos a educação, as sociedades futuras se tornarão um grande hospital psiquiátrico. As estatísticas já estão aí demonstrando o triste “status quo” actual, onde o normal é ser stressado, e o anormal é ser saudável. A reversão de tais dados atrela-se, evidentemente, a mais amplos e desdobramentos da delicada e sensível malha educacional. 
Não se esqueçam, pais e professores, que os senhores não são apenas frágeis pilares da escola clássica, mas pilares da escola da vida. Tenham sempre em mente que os computadores podem gerar gigantes na ciência, mas crianças na maturidade. Os educadores, apesar das suas dificuldades, são insubstituíveis, porque a gentileza, a solidariedade, a tolerância, a inclusão, os sentimentos altruístas, enfim, todas as áreas da sensibilidade não podem ser ensinadas por máquinas. 
Construir um cidadão engajado, consciente, probo, equilibrado, justo, bom, humano, benevolente, respeitador, indulgente, abnegado, modesto, humilde, amoroso, cumpridor de seus deveres, tal é a finalidade da acção educacional.