quarta-feira, março 19


 
 

O Evangelho Segundo o Espiritismo

por ALLAN KARDEC – tradução de José Herculano Pires


LACORDAIRE
Constantina, 1863
 
Que a paz do senhor esteja convosco, meus queridos amigos! Venho até vós para encorajar-vos a seguir o bom caminho.
Aos pobres de Espíritos que outrora viveram na Terra, Deus concede a missão de vir esclarecer-vos. Bendito seja pela graça que nos dá, de podermos ajudar o vosso adiantamento. Que o Espírito Santo me ilumine, me ajude a tornar compreensível a minha palavra, e me conceda a graça de pô-la ao alcance de todos. Todos vós, encarnados, que estais sob a pena e procurais a luz, que à vontade de Deus venha em minha ajuda, para fazê-la brilhar aos vossos olhos!
A humildade é uma virtude bem esquecida, entre vós. Os grandes exemplos que vos foram dados são tão poucos seguidos. E, no entanto, sem humildade, podeis ser caridosos para o vosso próximo? Oh!, não, porque esse sentimento nivela os homens, mostra-lhes que são irmãos, que devem ajudar-se mutuamente, e os encaminha ao bem. Sem a humildade, enfeitai-vos de virtudes que não possuis, como se vestísseis um hábito para ocultar as deformidades do corpo. Lembrai-vos daquele que nos salva; lembrai-vos da sua humildade, que o fez tão grande e o elevou acima de todos os profetas.
O orgulho é o terrível adversário da humildade. Se o Cristo prometeu o Reino dos Céus aos mais pobres, foi porque os grandes da Terra imaginavam que os títulos e as riquezas eram a recompensa de seus méritos, e que a sua essência era mais pura que a do pobre. Acreditavam que essas coisas lhes eram devidas, e por isso, quando Deus as retira, acusam-no de injustiça. Oh, irrisão e cegueira! Deus, acaso, estabeleceu entre vós alguma distinção pelos corpos? O invólucro do pobre não é o mesmo do rico? O Criador fez duas espécies de homens? Tudo quanto Deus fez é grande e sábio. Não lhe atribuais as idéias concebidas por vossos cérebros orgulhosos.
Oh!, rico! Enquanto dormes em teus aposentos suntuosos, ao abrigo do frio, não sabes quantos milhares de irmãos, iguais a ti, jazem na miséria? O desgraçado faminto não é teu igual? Bem sei que o teu orgulho se revolta com estas palavras. Concordarás em lhe dar uma esmola; nunca, porém, em lhe apertar fraternalmente a mão. Que! exclamarás: Eu, nascido de sangue nobre, um dos grandes da Terra, ser igual a esse miserável estropiado? Vã utopia de pretensos filósofos! Se fôssemos iguais, porque Deus o teria colocado tão baixo e a mim tão alto? É verdade que vossas roupas não são nada iguais, mas, se vos despirdes a ambos, qual a diferença que então haverá entre vós? A nobreza do sangue, dirás. Mas a química não encontrou diferenças entre o sangue do nobre e do plebeu, entre o do senhor e o do escravo. Quem te diz que também não foste miserável como ele? Que não pediste esmolas? Que não a pedirás um dia a esse mesmo que hoje desprezas? As riquezas são por acaso eternas? Não acabam com o corpo, invólucro perecível do Espírito? Oh, debruça-te humildemente sobre ti mesmo! Lança enfim os olhos sobre a realidade das coisas desse mundo, sobre o que constitui a grandeza e a humilhação no outro; pensa que a morte não te poupará mais do que aos outros; que os teus títulos não te preservarão dela; que te pode ferir amanhã, hoje, dentro de uma hora; e se ainda te sepultas no teu orgulho, oh! Então, eu te lamento, porque serás digno de piedade!
Orgulhosos! Que fostes, antes de serdes nobres e poderosos? Talvez mais humildes que o último de vossos servos. Curvai, portanto, vossas frontes altivas, que Deus as pode rebaixar, no momento mesmo em que as elevais mais alto. Todos os homens são iguais na balança divina; somente as virtudes os distinguem aos olhos de Deus. Todos os Espíritos são da mesma essência, e todos os corpos foram feitos da mesma massa. Vossos títulos e vossos nomes em nada a modificam; ficam no túmulo; não são eles que dão a felicidade prometida aos eleitos; a caridade e a humildade são os seus títulos de nobreza.
Pobre criatura! És mãe, e teus filhos sofrem. Estão com frio. Têm fome. Vais, curvada ao peso da tua cruz, humilhar-te para conseguir um pedaço de pão. Oh, eu me inclino diante de ti! Como és nobre, santa e grande aos meus olhos! Espera e ora: a felicidade ainda não é deste mundo. Aos pobres oprimidos, que nele confiam, Deus concede o Reino dos Céus.
E tu, que és moça, pobre filha devotada ao trabalho, entregue às privações, por que esses tristes pensamentos? Por que chorar? Que teus olhos se voltem, piedosos e serenos, para Deus: às aves do céu ele dá o alimento. Confia nele, que não te abandonará. O ruído das festas, dos prazeres mundanos, te faz bater o coração. Querias também enfeitar de flores a fronte e misturar-te aos felizes da Terra, dizes que poderias, como as mulheres que vês passar, estouvadas e alegres, ser rica também. Oh, cala-te, filha! Se soubesses quantas lágrimas e dores sem conta se ocultam sob esses vestidos bordados, quantos suspiros se asfixiam sob o ruído dessa orquestra feliz, preferirias teu humilde retiro e tua pobreza. Conserva-te pura aos olhos de Deus, se não queres que o teu anjo da guarda volte para Ele, escondendo o rosto sob as asas brancas, e te deixe com os teus remorsos, sem guia, sem apoio, neste mundo em que estarias perdida, esperando a punição no outro. E todos vós que sofreis as injustiças dos homens, sede indulgentes para as faltas dos vossos irmãos, lembrando que vós mesmos não estais sem manchas: isso é caridade, mas é também humildade. Se suportais calúnias, curvai a fronte diante da prova. Que vos importam as calúnias do mundo? Se vossa conduta é pura, Deus não pode vos recompensar? Suportar corajosamente as humilhações dos homens, é ser humilde e reconhecer que só Deus é grande e todo-poderoso.
Oh!, meu Deus, será preciso que o Cristo volte novamente a Terra, para ensinar aos homens as tuas leis, que eles esquecem? Deverá ele ainda expulsar os vendilhões do templo, que maculam tua casa, esse recinto de orações? E, quem sabe?, oh, homens, se Deus vos concedesse essa graça, se não o renegaríeis de novo, como outrora? Se não o acusaríeis de blasfemo, por vir abater o orgulho dos fariseus modernos? Talvez, mesmo, se não o faríeis seguir de novo o caminho do Gólgota?
Quando Moisés subiu ao Monte Sinai, para receber os mandamentos da Lei de Deus, o povo de Israel, entregue a si mesmo, abandonou o verdadeiro Deus. Homens e mulheres entregaram seu ouro, para a fabricação de um ídolo que abandonaram. Homens civilizados fazeis, entretanto, como eles. O Cristo vos deixou a sua doutrina, vos deu o exemplo de todas as virtudes, mas abandonastes exemplos e preceitos. Cada um de vós, carregando as suas paixões, fabricou um deus de acordo com a sua vontade: para uns terrível e sanguinário; para outros, indiferente aos interesses do mundo. O deus que fizestes é ainda o bezerro de ouro, que cada qual apropria aos seus gostos e às suas idéias.
Despertai, meus irmãos, meus amigos! Que a voz dos Espíritos vos toque o coração. Sede generosos e caridosos, sem ostentação. Quer dizer: fazei o bem com humildade. Que cada um vá demolindo aos poucos os altares elevados ao orgulho. Numa palavra: sede verdadeiros cristãos, e atingireis o reino da verdade. Não duvideis mais da bondade de Deus, agora que Ele vos envia tantas provas. Viemos preparar o caminho para o cumprimento das profecias. Quando o Senhor vos der uma manifestação mais esplendente da sua clemência, que o enviado celeste vos encontre reunidos numa grande família; que os vossos corações, brandos e humildes, sejam dignos de receber a palavra divina que Ele vos trará; que o eleito não encontre em seu caminho senão as palmas dispostas pelo vosso retorno ao bem, à caridade, à fraternidade; e então o vosso mundo se tornará um paraíso terreno. Mas se permanecerdes insensíveis à voz dos Espíritos, enviados para purificar e renovar as vossas sociedades civilizadas, ricas em conhecimentos e não obstante tão pobre de bons sentimentos, ah! nada mais nos restarás do que chorar e gemer pela vossa sorte. Mas, não, assim não acontecerá. Voltai-vos para Deus, vosso pai, e então nós todos, que trabalhamos para o cumprimento da sua vontade, entoaremos o cântico de agradecimento ao Senhor, por sua inesgotável bondade, e para o glorificar por todos os séculos. Assim seja.
 
 
 
 
 
 

quinta-feira, março 13


A Síndrome Do Orgulho Ferido
 
 
 
 Originariamente, um simples e comum substantivo masculino, com o sutil significado de ser a delicadeza no trato, cuidado extremo em não magoar ou ofender por palavras ou obras.
É o que dizem os dicionários...
Mas, curiosamente, no dia-a-dia de relação entre as pessoas, há mais significados, dependendo da ótica de quem o analisa. Se a visão é de quem provocou o melindre em alguém, fala mais alto seu sentido menor: suscetibilidade exagerada, escrúpulo, com profunda significação como agente das crises da sociedade humana. Se a visão é de quem se melindrou, o "paciente" liga tal sentimento a uma "justa" in­dignação, à injustiça e à ingratidão alheias, com uma acentuada pitada de sentimento melodramático de auto-piedade, de vítima.
Entretanto, sem rebuscamentos, sem volteios, sem rodeios e sem metáforas, melindre quer dizer mesmo orgulho ferido, egoísmo contrariado, vez que não há um autor sequer consultado e que se propõe analisar a questão - fora os dicionários - que não afirme perentoriamente que o melindre não seja um sentimento filho direto do orgulho, usando da síntese de um ilustre espírito-espírita.1
Tenhamos presente que uma célula da sociedade humana das mais representativas é a Casa Espírita, onde, lastimavelmente, também grassam interesses pessoais, desejos de destaque, arroubos de sabedoria, vaidades e tantos outros sentimentos iguais. Daí porque, quando menos se espera, surge o melindre...
É o médium que não se conforma com a análise direta feita por companheiros estudiosos, quando ele, ao receber os Espíritos, bate os pés, as mãos, fala alto demais, repetitivamente, com linguagem às vezes inadequada, etc. Melindra-se e não aceita as observações e conselhos, retirando-se do trabalho ou isolando-se na crítica à Casa e seus dirigentes. É o expositor que não cumpre os horários, nem o programa, que desvia sempre do assunto da palestra ou da aula, descambando para análises outras, não raro pessoais ou sem importância doutrinária, e que não aceita as recomendações da direção de manter-se fiel ao programa ou à conduta em classe ou na tribuna, melindrando-se com facilidade, afirmando que "nessa etapa da vida" não está mais para ouvir críticas "especialmente de quem sabe menos e é muito mais moço..." É o dirigente de área na Casa que se julga auto-suficiente em tudo e não aceita conselhos e recomendações para melhoria do setor, ameaçando retirar-se, entregar o cargo, exigindo se promova reunião de Diretoria para ouvir suas reclamações. É o diretor que tem sua proposição refugada e se sente desprestigiado, desaparecendo das reuniões e das assembleias. É até mesmo o doador de donativos, cujo nome foi omisso nos agradecimentos, magoando-se e fugindo a novas colaborações.
E assim por diante...
O que se ouve, em todos os exemplos citados, é mais ou menos o seguinte: "Não entendo o porquê de tanta injustiça comigo, tanta ingratidão..., logo eu, que tanto fiz, que tanto dei de mim, que tanto ajudei...", seguido de lamentações e, não raro, até de choro, entremeado de rasgos de vítima do mundo e de todos.
O erro está, neste caso, em o me­lindrado esperar (e até exigir) gratidão de todos pelo trabalho que ele desenvolveu na Casa, confundindo obrigações com favores. Ora, obrigações não implicam de modo algum em gratidão, muito especialmente se levando em conta que quem as assume, o faz livremente. Daí, quando contrariado, ferido em seu orgulho pessoal, julga-se vítima de ingratidão, de in­justiça... e ameaça retirar-se, quando não se esquiva definitivamente.
Um lembrete rápido para reflexão: Jesus houvera curado dez leprosos numa única tarde; mas, quantos deles se detiveram para agradecer-lhe? Apenas um! Quando o Cristo voltou-se para seus discípulos e perguntou-lhes onde estariam os outros nove curados, todos já tinham desaparecido, sem sequer um agradecimento. E daí: Jesus se melindrou, desistiu da tarefa, julgou-os ingratos?2 Para pensar!
Há mais uma agravante no fato que envolve o trabalhador descuidado: o melindre "propele a criatura a situar-se acima do bem de todos. É a vaidade que se contrapõe ao interesse geral. Assim, quando o espírita se melindra, julga-se mais importante que o Espiritismo e pretende-se melhor que a própria tarefa libertadora em que se consola e esclarece." (...) "Ninguém vai a um templo doutrinário para dar, primeiramente. Todos nós aí comparecemos para receber, antes de mais nada, sejam quais forem as circunstâncias."3
Assiste razão integral ao preclaro Irmão X4, a afirmar que "os melindres pessoais são parasitos destruidores das melhores organizações do espírito.
Quando o disse-me-disse invade uma instituição, o demônio da intriga se incumbe de toldar a água viva do entendimento e da harmonia, aniquilando todas as sementes divinas do trabalho digno e do aperfeiçoamento espiritual."
Ouçamos, afinal, todos nós, trabalhadores da seara espírita, mas altamente judiciosos e adequadíssimos - conselhos de André Luiz, na cartilha de boa condução moral chamada Sinal Verde5, assim vazados:
"Não permita que suscetibilidades lhe conturbem o coração.
Dê aos outros a liberdade de pensar, tanto quanto você é livre para pensar como deseja.
Cada pessoa vê os problemas da vida em ângulo diferente.
Muita vez, uma opinião diversa da sua pode ser de grande auxílio em sua experiência ou negócio, se você se dispuser a estudá-la.
Melindres arrasam as melhores plantações de amizades.
Quem reclama, agrava as dificuldades.
Não cultive ressentimentos. Melindrar-se, é um modo de perder as melhores situações.
Não se aborreça, coopere.
Quem vive de se ferir, acaba na condição de espinheiro".
Contra os vermes corrosivos do egoísmo, da vaidade e do orgulho (ferido ou não!), recomenda-se o uso do anti-séptico da Boa Nova, distribuído altruisticamente por Jesus, quando nos exorta: “Se alguém quiser alcançar comigo a luz divina da ressurreição, negue a si mesmo, tome a cruz dos próprios deveres, cada dia, e siga os meus passos.”6
 
BIBLIOGRAFIA
1 - Cairbar Schutel, in O Espírito de Verdade, cap. 36, psic. F. C. Xavier.
2 – Lucas, 17:12-19.
3 – Cairbar, idem.
4 – Cartas e Crônicas, cap. 29, psic. F. C. Xavier.
5 – Sinal Verde, André Luiz, cap. 23- Melindres, psic. F. C. Xavier.
6 – Mateus, 16:24; Marcos, 8:34; Lucas, 9:23.
Fonte: Revista Internacional de Espiritismo, de Jun 2006 
 
 
 
 
O OUTRO LADO DA VIDA

 
 
 
 
 
Um discípulo procurou seu mestre e perguntou:
- Mestre, como posso saber se existe mesmo vida após a morte?
O Mestre olhou para ele e respondeu:
- Encontre-me novamente após o sol se pôr.
O discípulo, meio contrariado, esperou algumas horas, ansioso pela resposta.
Logo que o sol se pôs, o discípulo voltou à presença do mestre. Assim que o discípulo apareceu, o mestre afirmou:
- Você percebeu o que houve? O sol morreu…
O discípulo ficou sem entender nada. Julgou que se tratava de uma brincadeira do mestre.
- Como assim mestre? Perguntou o discípulo. O sol não morreu, ele apenas se pôs no horizonte.
O mestre disse:
- Exatamente. O mesmo ocorre com todos nós após a morte. Se confiássemos apenas em nossa visão física, nos pareceria que o sol deixou de existir atrás da montanha. Mas no instante em que ele “morreu” no horizonte para nós, ele nasceu do outro lado do mundo, e se tornou visível para outras pessoas. O mesmo princípio rege a nossa alma. Após a morte do corpo, ela parece desaparecer aos nossos olhos, mas nasce no plano espiritual. A chama do espírito não se apaga, ela apenas passa a brilhar no outro lado da vida.
(Hugo Lapa)
 

sexta-feira, agosto 24

O Porquê da Vida "Léon Denis" 1885


O que somos?

De onde viemos?

Para onde vamos?

 

Àqueles que sofrem


É a vocês, ó meus irmãos e irmãs em humanidade, a todos vocês a quem o fardo da vida tem curvado, a vocês a quem as ásperas lutas, os cuidados, as provas têm sobrecarregado, que dedico estas páginas. É à intenção de vocês, aflitos, deserdados deste mundo, que escrevo. Humilde pioneiro da verdade e do progresso, coloco nelas o fruto de minhas vigílias, de minhas reflexões, de minhas esperanças, de tudo que me tem consolado, sustentado na minha caminhada aqui em baixo.

   Possam vocês aí encontrar alguns ensinamentos úteis, um pouco de luz para aclarar os seus caminhos. Possa esta obra modesta ser para seus espíritos entristecidos aquilo que a sombra representa para o trabalhador queimado de sol, aquilo que representa, no deserto árido, a fonte límpida e refrescante se ofertando aos olhos do viajante sedento!

I
Dever e liberdade


   Quem é que, nas horas de silêncio e recolhimento, nunca interrogou à natureza e ao seu próprio coração, perguntando-lhes o segredo das coisas, o porquê da vida, a razão de ser do universo? Onde está aquele que jamais procurou conhecer seu destino, levantar o véu da morte, saber se Deus é uma ficção ou uma realidade? Não seria um ser humano, por mais descuidado que fosse, se não tivesse considerado, algumas vezes, esses tremendos problemas. A dificuldade de os resolver, a incoerência e a multiplicidade das teorias que têm sido feitas, as deploráveis conseqüências que decorrem da maior parte dos sistemas já divulgados, todo esse conjunto confuso, fatigando o espírito humano, os têm relegado à indiferença e ao ceticismo.

   Portanto, o homem tem necessidade do saber, da luz que esclareça, da esperança que console, da certeza que o guie e sustente. Mas tem também os meios para conhecer, a possibilidade de ver a verdade se destacar das trevas e o inundar de sua benfazeja luz. Para isso, deve se desligar dos sistemas preconcebidos, descer ao fundo de si mesmo, ouvir a voz interior que nos fala a todos, e que os sofismas não podem enganar: a voz da razão, a voz da consciência.

   Assim tenho feito. Por muito tempo refleti, meditei sobre os problemas da vida e da morte e com perseverança sondei esses profundos abismos. Dirigi à Eterna Sabedoria um ardente apelo e Ela me respondeu, como sempre responde a todos.

   Com o espírito animado do amor ao bem, provas evidentes e fatos da observação direta vieram confirmar as deduções do meu pensamento, oferecer às minhas convicções uma base sólida e inabalável. Após haver duvidado, acreditei, após haver negado, vi. E a paz, a confiança e a força moral desceram em mim. Esses são os bens que, na sinceridade de meu coração desejoso de ser útil aos meus semelhantes, venho oferecer àqueles que sofrem e se desesperam.

   Jamais a necessidade de luz fez-se sentir de maneira mais imperiosa. Uma imensa transformação se opera no seio das sociedades. Após haver sido submetido, durante uma longa seqüência de séculos, aos princípios da autoridade, o homem aspira cada vez mais a libertar-se de todo entrave e a dirigir a si próprio. Ao mesmo tempo em que as instituições políticas e sociais se modificam, as crenças religiosas e a fé nos dogmas se tornam enfraquecidas. É ainda uma das conseqüências da liberdade em sua aplicação às coisas do pensamento e da consciência. A liberdade, em todos os domínios, tende a substituir a coação e o autoritarismo e a guiar as nações para horizontes novos. O direito de alguns torna-se o direito de todos; mas, para que esse direito soberano esteja conforme com a justiça e traga seus frutos, é preciso que o conhecimento das leis morais venha regulamentar seu exercício. Para que a liberdade seja fecunda, para que ofereça às ações humanas uma base certa e durável, deve ser complementada pela luz, pela sabedoria e pela verdade. A liberdade, para os homens ignorantes e viciosos, não seria como uma arma possante nas mãos da criança? A arma, nesse caso, freqüentemente se volta contra aquele que a porta e o fere.

II
Os problemas da existência


   O que importa ao homem saber, acima de tudo, é: o que ele é, de onde vem, para onde vai, qual o seu destino. As idéias que fazemos do universo e de suas leis, da função que cada um deve exercer sobre este vasto teatro, são de uma importância capital. Por elas dirigimos nossos atos. Consultando-as, estabelecemos um objetivo em nossas vidas e para ele caminhamos. Nisso está a base, o que verdadeiramente motiva toda civilização. Tão superficial é seu ideal, quanto superficial é o homem. Para as coletividades, como para o indivíduo, é a concepção do mundo e da vida que determina os deveres, fixa o caminho a seguir e as resoluções a adotar.

   Mas, como dissemos, a dificuldade em resolver esses problemas, muito freqüentemente, nos faz rejeitá-los. A opinião da grande maioria é vacilante e indecisa, seus atos e caracteres disso sofrem a conseqüência. É o mal da época, a causa da perturbação à qual se mantém presa. Tem-se o instinto do progresso, pode-se caminhar mas, para chegar aonde? É nisto que não se pensa o bastante. O homem, ignorante de seus destinos, é semelhante a um viajante que percorre maquinalmente um caminho sem conhecer o ponto de partida nem o de chegada, sem saber porque viaja e que, por conseguinte, está sempre disposto a parar ao menor obstáculo, perdendo tempo e descuidando-se do objetivo a atingir.

   A insuficiência e obscuridade das doutrinas religiosas e os abusos que têm engendrado, lançam numerosos espíritos ao materialismo. Crê-se, voluntariamente, que tudo acaba com a morte, que o homem não tem outro destino senão o de se esvanecer no nada.

   Demonstraremos a seguir como esta maneira de ver está em oposição flagrante à experiência e à razão. Digamos, desde já, que está destituída de toda noção de justiça e progresso.

   Se a vida estivesse circunscrita ao período que vai do berço à tumba, se as perspectivas da imortalidade não viessem esclarecer sua existência, o homem não teria outra lei senão a de seus instintos, apetites e gozos. Pouco importaria que amasse o bem e a eqüidade. Se não faz senão aparecer e desaparecer nesse mundo, se traz consigo o esquecimento de suas esperanças e afeições, sofreria tanto mais quanto mais puras e mais elevadas fossem suas aspirações; amando a justiça, soldado do direito, acreditar-se-ia condenado a quase nunca ver sua realização; apaixonado pelo progresso, sensível aos males de seus semelhantes, imaginaria que se extinguiria antes de ver triunfarem seus princípios.

   Com a perspectiva do nada, quanto mais tivesse praticado o devotamento e a justiça, mais sua vida seria fértil em amarguras e decepções. O egoísmo, bem compreendido, seria a suprema sabedoria; a existência perderia toda sua grandeza e dignidade. As mais nobres faculdades e as mais generosas tendências do espírito humano terminariam por se dobrar e extinguir inteiramente.

   A negação da vida futura suprime também toda sanção moral. Com ela, quer sejam bons ou maus, criminosos ou sublimes, todos os atos levariam aos mesmos resultados. Não haveria compensações às existências miseráveis, à obscuridade, à opressão, à dor; não haveria consolação nas provas, esperança para os aflitos. Nenhuma diferença se poderia esperar, no porvir, entre o egoísta, que viveu somente para si, e freqüentemente na dependência de seus semelhantes, e o mártir ou o apóstolo que sofreu, que sucumbiu em combate para a emancipação e o progresso da raça humana. A mesma treva lhes serviria de mortalha.

   Se tudo terminasse com a morte o ser não teria nenhuma razão de se constranger, de conter seus instintos e seus gostos. Fora das leis terrestres, ninguém o poderia deter. O bem e o mal, o justo e o injusto se confundiriam igualmente e se misturariam no nada. E o suicídio seria sempre um meio de escapar aos rigores das leis humanas.

   A crença no nada, ao mesmo tempo em que arruína toda sanção moral, deixa sem solução o problema da desigualdade das existências, naquilo que toca à diversidade das faculdades, das aptidões, das situações e dos méritos. Com efeito, por que a uns todos os dons de espírito e do coração e os favores da fortuna, enquanto que tantos outros não têm compartilhado senão a pobreza intelectual, os vícios e a miséria? Por que, na mesma família, parentes e irmãos, saídos da mesma carne e do mesmo sangue, diferem essencialmente sobre tantos pontos? Tantas questões insolúveis para os materialistas e que podem ser respondidas tão bem pelos crentes. Essas questões, nós iremos examinar brevemente à luz da razão.





VIDA É UMA SÓ ...

Água que corre para a vida eterna

1. VIDA É UMA SÓ

É uma só em dois sentidos. No primeiro caso pensamos em nossa própria existência e acreditamos que ela é uma só, que a vida eterna é gerada na vida terrena e dela é continuação. Cremos também que nossa pessoa, com a mesma identidade, continua depois da ressurreição. Num segundo sentido podemos entender que existe um DEUS DA VIDA, que todo ser vivo é criatura sua e é, de alguma forma, expressão desta vida que há em Deus . Assim é importante que tenhamos um respeito religioso, místico por todas as formas de vida e por tudo que as mantém e alimenta: água, terra e ar.
Nas suas diversas manifestações temos vida vegetal que vai de microscópicos fungos unicelulares (com uma só célula) a árvores gigantescas. A vida animal é variadíssima, de unicelulares a baleias descomunais.
O homem encaixa-se na vida animal com sua dimensão biológica. Mas dotado de espírito faz a ponte para a sobrenatural, para o próprio Deus que é "Espírito e Verdade". O homem foi criado por Deus para ser o cultivador, o guarda e protetor de toda a criação, principalmente de toda criatura viva.

2. A PRAGA DO MANIQUEÍSMO

Seria uma maravilha se todo ser humano fosse capaz de ter fé em seu Criador e compreender seu papel no mundo. Mas não é assim. Muito mais velhas que o Cristianismo são certas doutrinas que ensinaram o desprezo por todas as coisas materiais. A própria criatura humana tinha de livrar-se de toda a sua corporalidade e sexualidade para poder chegar a Deus.
O Cristianismo tem a mais bela das doutrinas sobre o valor de toda a criação e o respeito reverente e religioso que todos nós por ela devemos ter. Ensina-nos que o próprio Deus escolheu encarnar-se, tornar-se matéria, ao fazer-se um de nós, um "Filho do Homem", como Jesus gostava de identificar-se. Isso devia ser suficiente para varrer como lixo da face da Terra todo maniqueísmo, todo dualismo, todo desprezo por qualquer aspecto da criação. Mas não é assim! Mesmo entre cristãos católicos de nossos dias há os que vivem e pregam aspectos desta praga. Constantemente apontam para elementos que, supostamente, são irreconciliáveis entre nós humanos e Deus. Lembro-me daquela senhora católica à qual eu procurava explicação na boa teologia católica para um problema seu de ordem religiosa. Furiosa, grosseiramente, interrompeu a celebração do Sacramento da Penitência, protestou que ela procurava "doutrina de Deus e não dos homens". Saiu batendo a porta. Será que para ela o Verbo de Deus se fez carne, sangue, sexualidade, emoções... humanos com todas as suas conseqüências?

3. O ACERTO EM ESCOLHER A ÁGUA

A água é o mapa da mina da vida. Ela é base indispensável de toda a vida.
Todos sabem também quanta água é desperdiçada e quanta água emporcalhada e inutilizada por toda sorte de poluentes. Sabemos que bilhões de pessoas não têm acesso à água de boa qualidade para beber e preparar seus alimentos. Tragicamente, isso leva uns 2 milhões de crianças do mundo a morrer antes dos 5 anos de idade!

Pelos meus cálculos uns 50 países já experimentam carência acentuada de água para necessidades básicas. Nas próximas décadas vários podem entrar em situação de catástrofe com emigração forçada de populações inteiras. Conflitos e guerras poderão ser inevitáveis.
Até em nosso Brasil, detentor de mais de 12% da água doce disponível no mundo, existem milhões de pessoas sem água suficiente ou adequada para consumo humano, gerando toda sorte de doenças e mortes, sobretudo entre crianças. Boa parte do Nordeste perde periodicamente rebanhos pela sede e não consegue produzir alimentos básicos para sua população. Isso não pode continuar assim.

4. A CRIAÇÃO DE DEUS FORMA

Um todo que necessita de harmonia em sua interdependência. Dizia acima que o ser humano é o guarda, o protetor e o cultivador da vida em nosso Planeta. Tudo o que é necessário para promover e manter esse equilíbrio e harmonia como a quantidade e a pureza da água, trato correto às nossas terras, não poluição e zelo pela atmosfera que protege o Planeta devem fazer parte dos objetivos de todos.
É dever de todo ser humano decente e consciente a lutar para que a água nunca seja objeto de propriedade de ninguém. No máximo podemos imaginar remuneração justa a concessionários que tratam e distribuem a água. Mas tais empresas devem se rigorosamente fiscalizadas e garantir que ninguém seja privado do uso essencial da água, mesmo por falta de pagamento dos serviços pela pobreza!

5. ÁGUA É VIDA ETERNA.
Podemos pensar em Cristo que promete à samaritana "água que jorra para a vida eterna" (Jô 4,13). O elemento gerador desta água eterna é a Fé em Jesus.
O compromisso e engajamento nesta Fé nasceu em nosso batismo. Então, a mística cristã nos leva a pensar em nossa missão de batizados, sempre que nos servimos da preciosíssima água para qualquer necessidade.

O lava-pés é mais um gesto de Cristo que recorre à água (Jô, 13). Aí descobrimos que nós, os discípulos, precisamos ser e agir como nosso amado e único Mestre e Senhor: solidários e serviçais aos irmãos em todas as situações, ao ponto de arriscar a própria vida para isso.
Então, o elo se fecha. Um círculo virtuoso e auto-alimentado se firma em nós. Da água nascemos para Cristo. Usando corretamente a água, defendendo o direito de todos a ter acesso a ela, a vida de Cristo cresce e fortalece-se em nós. Isto nos torna mais zelosos em proteger a água como nascedouro e sustentáculo de todas as formas de criaturas vivas, expressões perenes de nosso DEUS DA VIDA

A Nossa Transformação


"Como seria doce viver entre nós, se a contenção exterior sempre representasse a imagem dos estados do coração, se a decência fosse a virtude, se nossas máximas nos servissem de regra, se a verdadeira filosofia fosse inseparável do título de filósofo!"
Rousseau: Discurso sobre as Ciências e as Artes



Quando olhamos o mundo, no estágio em que se encontra, de poucos afetos, de relacionamentos superficiais e muitas vezes interesseiros, de completo desamor, nos vem a pergunta: O que aconteceu com o ser humano? Teria deixado este de "SER humano"?


Lamentavelmente a resposta imediata é "sim"; e pior, com a triste sensação de que estamos vivendo em um mundo irremediavelmente sem conserto. Quando abrimos os jornais e lemos as manchetes ou assistimos o noticiário o que vemos são as tragédias, as desigualdades, a violência. Filhos que matam seus pais, pais que matam seus filhos; discussões frívolas que levam a morte.


Estes acontecimentos não são o triste privilégio de uma cidade ou país isoladamente, há uma profunda igualdade de fatos espalhados pelo mundo todo. A incapacidade humana de amor a seus semelhantes ocorre nas cidades do Brasil, nos campos de batalha do Iraque, nos atentados na América e na Europa.


Diante de tudo isso uma outra pergunta é fundamental: O que podemos fazer para construir um mundo melhor? Há quem diga que nada é possível, mas não podemos nos juntar a voz dos descrentes e que em nada contribuem para a harmonia do planeta.


Como bem disse Rousseau no seu Discurso sobre as Ciências e as Artes: como seria doce viver se as nossas máximas nos servissem de regra. De nada adianta termos discursos politicamente corretos se nada fazemos em prol do outro, do meio ambiente, do planeta.


O Homem precisa de uma roupagem nova, precisa libertar-se de comportamentos adquiridos ao longo do tempo e que o distanciou de si mesmo. Nós podemos nos transformar, evoluir interiormente e assim contribuir para a construção de um mundo mais humano, igual e fraterno.


Não há uma regra, cada um pode fazer seu próprio caminho, basta apenas não imaginarmos que algo extraordinário deva ser feito. Como bem disse Renato Russo: quem me dera apenas uma vez que o mais simples fosse visto como o mais importante.


Regras não há, mas ao pensarmos no simples podemos começar usando algumas ferramentas para a nossa transformação interior, podemos imaginar dez pontos iniciais e depois buscarmos o décimo primeiro, segundo, numa jornada sem fim, porque este crescimento é contínuo e ilimitado. Como sugestão, porque não começarmos:


Aplicando a justiça! Certo dia Mêncio, discípulo de Confúcio, lhe perguntou: - Mestre, com o que devo pagar o mal? Se pago o bem com o bem, devo pagar o mal com o mal? Confúcio respondeu: Pague o bem com o bem, e o mal pague com justiça.


Exercitando a caridade! Recentemente a televisão mostrou a reportagem de uma senhora que estava com uma depressão severa e que pegou um cãozinho para lhe fazer companhia, e só quem sabe o poder que estas criaturas têm, sabe como podem contribuir para a cura de uma doença como a depressão. Esta senhora, certamente estava evoluída interiormente, pois não guardou o benefício só para si, e hoje leva o cão a um hospital de crianças para que elas também tenham a oportunidade de se curar por um meio tão simples. Ela sabe que a caridade não se faz só com a mão no bolso.


Buscando a sabedoria! Há quem pense que a sabedoria só ocorre na idade adulta e não é assim, Rousseau também dizia que "não há verdadeira felicidade sem sabedoria e esta pode ser encontrada em qualquer estágio da vida". Que possamos continuamente buscar a sabedoria, não a erudição, mas a temperança, a sensatez.


Crescendo em amizade! Que triste quando ouvimos alguém dizer que seus amigos se conta nos dedos da sua mão. Triste porque deveríamos ter um número incontável de amigos verdadeiros... e isto é possível, basta criarmos as condições para que a verdadeira amizade floresça. Amigos são os que permanecem ao nosso lado independente das circunstâncias, por mais adversas que estas se apresentem.


Vivendo com entusiasmo! O crescimento interior depende, em parte, da energia que colocamos nele e viver sem entusiasmo é viver sem esta energia, precisamos trazer à tona o que de mais precioso existe em nós, que é a capacidade de crer no nosso deus interior. Buscar na essência etimológica desta palavra a força necessária para viver feliz.


Aproveitando intensamente o presente! Por mais que saibamos que nada podemos fazer para modificar o passado e que o futuro não nos pertence, temos muitas vezes a tendência de vivermos em um destes momentos; ou nos atormentamos com as imagens do passado ou sonhamos com uma parte da vida que ainda não chegou e assim desperdiçamos momentos significativos. Viva o presente, de preferência amando, porque esta existência é muito curta para centrarmos nossas energias fora do amor.


Sabendo reconhecer as fraquezas! Ninguém é perfeito, mas também não precisamos nos acomodar com as imperfeições, o crescimento interior acontece paulatinamente, mas a partir do momento que reconhecemos os pontos que precisamos melhorar, acelera o processo de transformação.


Promovendo a paz! A paz começa em casa e se projeta pelo mundo. A paz no trânsito, na escola, no trabalho, na sociedade. Que possamos verdadeiramente buscar e promover a paz, para que não tenhamos que escrevê-la em lençóis brancos estendidos sobre tragédias.


Mantendo a mansidão do espírito! Manter a mansidão do espírito não é ser inerte, mas ter equilíbrio suficiente para enxergar além de qualquer acontecimento, é ter uma visão estratégica em longo prazo, que permita ser e ficar equilibrado. Manso de espírito é quem está muito perto de uma profunda evolução pessoal.


Sendo altruísta! Embora todos os aspectos anteriores sejam características de pessoas altruístas, precisamos pensar no altruísmo como fonte de vida. Sem dúvida que parece uma grande utopia falarmos assim em um mundo tão perverso e desprovido dos melhores sentimentos. Mas façamos a nossa parte ensinada por Confúcio: Até que o sol brilhe, acendamos uma vela.


Sem regras, construamos o nosso caminho, pensando em uma vida melhor, em um mundo novo, cheio de alegria, de felicidade e paz. Permitindo que alguns chamem a isso de utopia, e que nós possamos chamar a isso de amor.


E finalizando com Gibran: Não digais – "Encontrei a verdade". Dizei de preferência – "Encontrei uma verdade". Não digais – "Encontrei o caminho da alma". Dizei de preferência – "Encontrei a alma andando em meu caminho". Porque a alma anda por todos os caminhos. A Alma não marcha em linha reta nem cresce como um caniço. A alma desabrocha tal um lótus de inúmeras pétalas.