Palavra de origem grega, querendo significar ajustamento ou ordem de elementos, ajustamento, encaixe, articulação, proporção. Desde sempre se comparou a harmonia musical à harmonia cósmica, a universo entendido como um sistema de elementos diversos e contraditórios.
sábado, maio 3
quarta-feira, março 19
O Evangelho Segundo o Espiritismo
por ALLAN KARDEC – tradução de José Herculano Pires
LACORDAIRE
Constantina, 1863
Que a paz do
senhor esteja convosco, meus queridos amigos! Venho até vós para encorajar-vos
a seguir o bom caminho.
Aos pobres de Espíritos que
outrora viveram na Terra, Deus concede a missão de vir esclarecer-vos. Bendito
seja pela graça que nos dá, de podermos ajudar o vosso adiantamento. Que o
Espírito Santo me ilumine, me ajude a tornar compreensível a minha palavra, e
me conceda a graça de pô-la ao alcance de todos. Todos vós, encarnados, que
estais sob a pena e procurais a luz, que à vontade de Deus venha em minha
ajuda, para fazê-la brilhar aos vossos olhos!
A humildade é uma virtude bem
esquecida, entre vós. Os grandes exemplos que vos foram dados são tão poucos
seguidos. E, no entanto, sem humildade, podeis ser caridosos para o vosso
próximo? Oh!, não, porque esse sentimento nivela os homens, mostra-lhes que são
irmãos, que devem ajudar-se mutuamente, e os encaminha ao bem. Sem a humildade,
enfeitai-vos de virtudes que não possuis, como se vestísseis um hábito para
ocultar as deformidades do corpo. Lembrai-vos daquele que nos salva;
lembrai-vos da sua humildade, que o fez tão grande e o elevou acima de todos os
profetas.
O orgulho é o terrível
adversário da humildade. Se o Cristo prometeu o Reino dos Céus aos mais pobres,
foi porque os grandes da Terra imaginavam que os títulos e as riquezas eram a
recompensa de seus méritos, e que a sua essência era mais pura que a do pobre.
Acreditavam que essas coisas lhes eram devidas, e por isso, quando Deus as
retira, acusam-no de injustiça. Oh, irrisão e cegueira! Deus, acaso,
estabeleceu entre vós alguma distinção pelos corpos? O invólucro do pobre não é
o mesmo do rico? O Criador fez duas espécies de homens? Tudo quanto Deus fez é
grande e sábio. Não lhe atribuais as idéias concebidas por vossos cérebros
orgulhosos.
Oh!, rico! Enquanto dormes em
teus aposentos suntuosos, ao abrigo do frio, não sabes quantos milhares de
irmãos, iguais a ti, jazem na miséria? O desgraçado faminto não é teu igual?
Bem sei que o teu orgulho se revolta com estas palavras. Concordarás em lhe dar
uma esmola; nunca, porém, em lhe apertar fraternalmente a mão. Que! exclamarás:
Eu, nascido de sangue nobre, um dos grandes da Terra, ser igual a esse
miserável estropiado? Vã utopia de pretensos filósofos! Se fôssemos iguais,
porque Deus o teria colocado tão baixo e a mim tão alto? É verdade que vossas
roupas não são nada iguais, mas, se vos despirdes a ambos, qual a diferença que
então haverá entre vós? A nobreza do sangue, dirás. Mas a química não encontrou
diferenças entre o sangue do nobre e do plebeu, entre o do senhor e o do
escravo. Quem te diz que também não foste miserável como ele? Que não pediste
esmolas? Que não a pedirás um dia a esse mesmo que hoje desprezas? As riquezas
são por acaso eternas? Não acabam com o corpo, invólucro perecível do Espírito?
Oh, debruça-te humildemente sobre ti mesmo! Lança enfim os olhos sobre a
realidade das coisas desse mundo, sobre o que constitui a grandeza e a
humilhação no outro; pensa que a morte não te poupará mais do que aos outros;
que os teus títulos não te preservarão dela; que te pode ferir amanhã, hoje,
dentro de uma hora; e se ainda te sepultas no teu orgulho, oh! Então, eu te
lamento, porque serás digno de piedade!
Orgulhosos! Que fostes, antes
de serdes nobres e poderosos? Talvez mais humildes que o último de vossos
servos. Curvai, portanto, vossas frontes altivas, que Deus as pode rebaixar, no
momento mesmo em que as elevais mais alto. Todos os homens são iguais na
balança divina; somente as virtudes os distinguem aos olhos de Deus. Todos os
Espíritos são da mesma essência, e todos os corpos foram feitos da mesma massa.
Vossos títulos e vossos nomes em nada a modificam; ficam no túmulo; não são
eles que dão a felicidade prometida aos eleitos; a caridade e a humildade são
os seus títulos de nobreza.
Pobre criatura! És mãe, e teus
filhos sofrem. Estão com frio. Têm fome. Vais, curvada ao peso da tua cruz,
humilhar-te para conseguir um pedaço de pão. Oh, eu me inclino diante de ti!
Como és nobre, santa e grande aos meus olhos! Espera e ora: a felicidade ainda
não é deste mundo. Aos pobres oprimidos, que nele confiam, Deus concede o Reino
dos Céus.
E tu, que és moça, pobre filha
devotada ao trabalho, entregue às privações, por que esses tristes pensamentos?
Por que chorar? Que teus olhos se voltem, piedosos e serenos, para Deus: às
aves do céu ele dá o alimento. Confia nele, que não te abandonará. O ruído das
festas, dos prazeres mundanos, te faz bater o coração. Querias também enfeitar
de flores a fronte e misturar-te aos felizes da Terra, dizes que poderias, como
as mulheres que vês passar, estouvadas e alegres, ser rica também. Oh, cala-te,
filha! Se soubesses quantas lágrimas e dores sem conta se ocultam sob esses
vestidos bordados, quantos suspiros se asfixiam sob o ruído dessa orquestra
feliz, preferirias teu humilde retiro e tua pobreza. Conserva-te pura aos olhos
de Deus, se não queres que o teu anjo da guarda volte para Ele, escondendo o
rosto sob as asas brancas, e te deixe com os teus remorsos, sem guia, sem
apoio, neste mundo em que estarias perdida, esperando a punição no outro. E
todos vós que sofreis as injustiças dos homens, sede indulgentes para as faltas
dos vossos irmãos, lembrando que vós mesmos não estais sem manchas: isso é
caridade, mas é também humildade. Se suportais calúnias, curvai a fronte diante
da prova. Que vos importam as calúnias do mundo? Se vossa conduta é pura, Deus
não pode vos recompensar? Suportar corajosamente as humilhações dos homens, é
ser humilde e reconhecer que só Deus é grande e todo-poderoso.
Oh!, meu Deus, será preciso
que o Cristo volte novamente a Terra, para ensinar aos homens as tuas leis, que
eles esquecem? Deverá ele ainda expulsar os vendilhões do templo, que maculam
tua casa, esse recinto de orações? E, quem sabe?, oh, homens, se Deus vos
concedesse essa graça, se não o renegaríeis de novo, como outrora? Se não o
acusaríeis de blasfemo, por vir abater o orgulho dos fariseus modernos? Talvez,
mesmo, se não o faríeis seguir de novo o caminho do Gólgota?
Quando Moisés subiu ao Monte
Sinai, para receber os mandamentos da Lei de Deus, o povo de Israel, entregue a
si mesmo, abandonou o verdadeiro Deus. Homens e mulheres entregaram seu ouro,
para a fabricação de um ídolo que abandonaram. Homens civilizados fazeis,
entretanto, como eles. O Cristo vos deixou a sua doutrina, vos deu o exemplo de
todas as virtudes, mas abandonastes exemplos e preceitos. Cada um de vós,
carregando as suas paixões, fabricou um deus de acordo com a sua vontade: para
uns terrível e sanguinário; para outros, indiferente aos interesses do mundo. O
deus que fizestes é ainda o bezerro de ouro, que cada qual apropria aos seus
gostos e às suas idéias.
Despertai, meus irmãos, meus
amigos! Que a voz dos Espíritos vos toque o coração. Sede generosos e
caridosos, sem ostentação. Quer dizer: fazei o bem com humildade. Que cada um
vá demolindo aos poucos os altares elevados ao orgulho. Numa palavra: sede
verdadeiros cristãos, e atingireis o reino da verdade. Não duvideis mais da
bondade de Deus, agora que Ele vos envia tantas provas. Viemos preparar o
caminho para o cumprimento das profecias. Quando o Senhor vos der uma
manifestação mais esplendente da sua clemência, que o enviado celeste vos
encontre reunidos numa grande família; que os vossos corações, brandos e
humildes, sejam dignos de receber a palavra divina que Ele vos trará; que o
eleito não encontre em seu caminho senão as palmas dispostas pelo vosso retorno
ao bem, à caridade, à fraternidade; e então o vosso mundo se tornará um paraíso
terreno. Mas se permanecerdes insensíveis à voz dos Espíritos, enviados para
purificar e renovar as vossas sociedades civilizadas, ricas em conhecimentos e
não obstante tão pobre de bons sentimentos, ah! nada mais nos restarás do que
chorar e gemer pela vossa sorte. Mas, não, assim não acontecerá. Voltai-vos
para Deus, vosso pai, e então nós todos, que trabalhamos para o cumprimento da
sua vontade, entoaremos o cântico de agradecimento ao Senhor, por sua
inesgotável bondade, e para o glorificar por todos os séculos. Assim seja.
quinta-feira, março 13
A
Síndrome Do Orgulho Ferido
Originariamente, um simples e comum
substantivo masculino, com o sutil significado de ser a delicadeza no trato,
cuidado extremo em não magoar ou ofender por palavras ou obras.
É o que dizem os dicionários...
Mas, curiosamente, no dia-a-dia de relação entre as
pessoas, há mais significados, dependendo da ótica de quem o analisa. Se a
visão é de quem provocou o melindre em alguém, fala mais alto seu sentido
menor: suscetibilidade exagerada, escrúpulo, com profunda significação como
agente das crises da sociedade humana. Se a visão é de quem se melindrou, o
"paciente" liga tal sentimento a uma "justa" indignação, à
injustiça e à ingratidão alheias, com uma acentuada pitada de sentimento
melodramático de auto-piedade, de vítima.
Entretanto, sem rebuscamentos, sem volteios, sem
rodeios e sem metáforas, melindre quer dizer mesmo orgulho ferido, egoísmo
contrariado, vez que não há um autor sequer consultado e que se propõe analisar
a questão - fora os dicionários - que não afirme perentoriamente que o melindre
não seja um sentimento filho direto do orgulho, usando da síntese de um ilustre
espírito-espírita.1
Tenhamos presente que uma célula da sociedade humana
das mais representativas é a Casa Espírita, onde, lastimavelmente, também
grassam interesses pessoais, desejos de destaque, arroubos de sabedoria,
vaidades e tantos outros sentimentos iguais. Daí porque, quando menos se
espera, surge o melindre...
É o médium que não se conforma com a análise direta
feita por companheiros estudiosos, quando ele, ao receber os Espíritos, bate os
pés, as mãos, fala alto demais, repetitivamente, com linguagem às vezes
inadequada, etc. Melindra-se e não aceita as observações e conselhos,
retirando-se do trabalho ou isolando-se na crítica à Casa e seus dirigentes. É
o expositor que não cumpre os horários, nem o programa, que desvia sempre do
assunto da palestra ou da aula, descambando para análises outras, não raro
pessoais ou sem importância doutrinária, e que não aceita as recomendações da
direção de manter-se fiel ao programa ou à conduta em classe ou na tribuna,
melindrando-se com facilidade, afirmando que "nessa etapa da vida"
não está mais para ouvir críticas "especialmente de quem sabe menos e é
muito mais moço..." É o dirigente de área na Casa que se julga
auto-suficiente em tudo e não aceita conselhos e recomendações para melhoria do
setor, ameaçando retirar-se, entregar o cargo, exigindo se promova reunião de
Diretoria para ouvir suas reclamações. É o diretor que tem sua proposição
refugada e se sente desprestigiado, desaparecendo das reuniões e das
assembleias. É até mesmo o doador de donativos, cujo nome foi omisso nos
agradecimentos, magoando-se e fugindo a novas colaborações.
E assim por diante...
O que se ouve, em todos os exemplos citados, é mais ou
menos o seguinte: "Não entendo o porquê de tanta injustiça comigo, tanta
ingratidão..., logo eu, que tanto fiz, que tanto dei de mim, que tanto
ajudei...", seguido de lamentações e, não raro, até de choro, entremeado
de rasgos de vítima do mundo e de todos.
O erro está, neste caso, em o melindrado esperar (e
até exigir) gratidão de todos pelo trabalho que ele desenvolveu na Casa,
confundindo obrigações com favores. Ora, obrigações não implicam de modo algum
em gratidão, muito especialmente se levando em conta que quem as assume, o faz
livremente. Daí, quando contrariado, ferido em seu orgulho pessoal, julga-se
vítima de ingratidão, de injustiça... e ameaça retirar-se, quando não se
esquiva definitivamente.
Um lembrete rápido para reflexão: Jesus houvera curado
dez leprosos numa única tarde; mas, quantos deles se detiveram para
agradecer-lhe? Apenas um! Quando o Cristo voltou-se para seus discípulos e
perguntou-lhes onde estariam os outros nove curados, todos já tinham
desaparecido, sem sequer um agradecimento. E daí: Jesus se melindrou, desistiu
da tarefa, julgou-os ingratos?2 Para pensar!
Há mais uma agravante no fato que envolve o
trabalhador descuidado: o melindre "propele a criatura a situar-se acima
do bem de todos. É a vaidade que se contrapõe ao interesse geral. Assim, quando
o espírita se melindra, julga-se mais importante que o Espiritismo e
pretende-se melhor que a própria tarefa libertadora em que se consola e
esclarece." (...) "Ninguém vai a um templo doutrinário para dar,
primeiramente. Todos nós aí comparecemos para receber, antes de mais nada,
sejam quais forem as circunstâncias."3
Assiste razão integral ao preclaro Irmão X4, a afirmar
que "os melindres pessoais são parasitos destruidores das melhores
organizações do espírito.
Quando o disse-me-disse invade uma instituição, o
demônio da intriga se incumbe de toldar a água viva do entendimento e da
harmonia, aniquilando todas as sementes divinas do trabalho digno e do
aperfeiçoamento espiritual."
Ouçamos, afinal, todos nós, trabalhadores da seara
espírita, mas altamente judiciosos e adequadíssimos - conselhos de André Luiz,
na cartilha de boa condução moral chamada Sinal Verde5, assim vazados:
"Não permita que suscetibilidades lhe conturbem o
coração.
Dê aos outros a liberdade de pensar, tanto quanto você
é livre para pensar como deseja.
Cada pessoa vê os problemas da vida em ângulo
diferente.
Muita vez, uma opinião diversa da sua pode ser de
grande auxílio em sua experiência ou negócio, se você se dispuser a estudá-la.
Melindres arrasam as melhores plantações de amizades.
Quem reclama, agrava as dificuldades.
Não cultive ressentimentos. Melindrar-se, é um modo de
perder as melhores situações.
Não se aborreça, coopere.
Quem vive de se ferir, acaba na condição de espinheiro".
Contra os vermes corrosivos do egoísmo, da vaidade e
do orgulho (ferido ou não!), recomenda-se o uso do anti-séptico da Boa Nova,
distribuído altruisticamente por Jesus, quando nos exorta: “Se alguém quiser
alcançar comigo a luz divina da ressurreição, negue a si mesmo, tome a cruz dos
próprios deveres, cada dia, e siga os meus passos.”6
BIBLIOGRAFIA
1 - Cairbar Schutel, in O Espírito de Verdade, cap.
36, psic. F. C. Xavier.
2 – Lucas, 17:12-19.
3 – Cairbar, idem.
4 – Cartas e Crônicas, cap. 29, psic. F. C. Xavier.
5 – Sinal Verde, André Luiz, cap. 23- Melindres, psic.
F. C. Xavier.
6 – Mateus, 16:24; Marcos, 8:34; Lucas, 9:23.
Fonte: Revista Internacional de
Espiritismo, de Jun 2006
O OUTRO LADO DA VIDA
Um discípulo procurou seu mestre e
perguntou:
- Mestre, como posso saber se existe mesmo vida após a morte?
O Mestre olhou para ele e respondeu:
- Encontre-me novamente após o sol se pôr.
O discípulo, meio contrariado, esperou algumas horas, ansioso pela resposta.
Logo que o sol se pôs, o discípulo voltou à presença do mestre. Assim que o discípulo apareceu, o mestre afirmou:
- Você percebeu o que houve? O sol morreu…
O discípulo ficou sem entender nada. Julgou que se tratava de uma brincadeira do mestre.
- Como assim mestre? Perguntou o discípulo. O sol não morreu, ele apenas se pôs no horizonte.
O mestre disse:
- Exatamente. O mesmo ocorre com todos nós após a morte. Se confiássemos apenas em nossa visão física, nos pareceria que o sol deixou de existir atrás da montanha. Mas no instante em que ele “morreu” no horizonte para nós, ele nasceu do outro lado do mundo, e se tornou visível para outras pessoas. O mesmo princípio rege a nossa alma. Após a morte do corpo, ela parece desaparecer aos nossos olhos, mas nasce no plano espiritual. A chama do espírito não se apaga, ela apenas passa a brilhar no outro lado da vida.
(Hugo Lapa)
- Mestre, como posso saber se existe mesmo vida após a morte?
O Mestre olhou para ele e respondeu:
- Encontre-me novamente após o sol se pôr.
O discípulo, meio contrariado, esperou algumas horas, ansioso pela resposta.
Logo que o sol se pôs, o discípulo voltou à presença do mestre. Assim que o discípulo apareceu, o mestre afirmou:
- Você percebeu o que houve? O sol morreu…
O discípulo ficou sem entender nada. Julgou que se tratava de uma brincadeira do mestre.
- Como assim mestre? Perguntou o discípulo. O sol não morreu, ele apenas se pôs no horizonte.
O mestre disse:
- Exatamente. O mesmo ocorre com todos nós após a morte. Se confiássemos apenas em nossa visão física, nos pareceria que o sol deixou de existir atrás da montanha. Mas no instante em que ele “morreu” no horizonte para nós, ele nasceu do outro lado do mundo, e se tornou visível para outras pessoas. O mesmo princípio rege a nossa alma. Após a morte do corpo, ela parece desaparecer aos nossos olhos, mas nasce no plano espiritual. A chama do espírito não se apaga, ela apenas passa a brilhar no outro lado da vida.
(Hugo Lapa)
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