sexta-feira, agosto 24

A Nossa Transformação


"Como seria doce viver entre nós, se a contenção exterior sempre representasse a imagem dos estados do coração, se a decência fosse a virtude, se nossas máximas nos servissem de regra, se a verdadeira filosofia fosse inseparável do título de filósofo!"
Rousseau: Discurso sobre as Ciências e as Artes



Quando olhamos o mundo, no estágio em que se encontra, de poucos afetos, de relacionamentos superficiais e muitas vezes interesseiros, de completo desamor, nos vem a pergunta: O que aconteceu com o ser humano? Teria deixado este de "SER humano"?


Lamentavelmente a resposta imediata é "sim"; e pior, com a triste sensação de que estamos vivendo em um mundo irremediavelmente sem conserto. Quando abrimos os jornais e lemos as manchetes ou assistimos o noticiário o que vemos são as tragédias, as desigualdades, a violência. Filhos que matam seus pais, pais que matam seus filhos; discussões frívolas que levam a morte.


Estes acontecimentos não são o triste privilégio de uma cidade ou país isoladamente, há uma profunda igualdade de fatos espalhados pelo mundo todo. A incapacidade humana de amor a seus semelhantes ocorre nas cidades do Brasil, nos campos de batalha do Iraque, nos atentados na América e na Europa.


Diante de tudo isso uma outra pergunta é fundamental: O que podemos fazer para construir um mundo melhor? Há quem diga que nada é possível, mas não podemos nos juntar a voz dos descrentes e que em nada contribuem para a harmonia do planeta.


Como bem disse Rousseau no seu Discurso sobre as Ciências e as Artes: como seria doce viver se as nossas máximas nos servissem de regra. De nada adianta termos discursos politicamente corretos se nada fazemos em prol do outro, do meio ambiente, do planeta.


O Homem precisa de uma roupagem nova, precisa libertar-se de comportamentos adquiridos ao longo do tempo e que o distanciou de si mesmo. Nós podemos nos transformar, evoluir interiormente e assim contribuir para a construção de um mundo mais humano, igual e fraterno.


Não há uma regra, cada um pode fazer seu próprio caminho, basta apenas não imaginarmos que algo extraordinário deva ser feito. Como bem disse Renato Russo: quem me dera apenas uma vez que o mais simples fosse visto como o mais importante.


Regras não há, mas ao pensarmos no simples podemos começar usando algumas ferramentas para a nossa transformação interior, podemos imaginar dez pontos iniciais e depois buscarmos o décimo primeiro, segundo, numa jornada sem fim, porque este crescimento é contínuo e ilimitado. Como sugestão, porque não começarmos:


Aplicando a justiça! Certo dia Mêncio, discípulo de Confúcio, lhe perguntou: - Mestre, com o que devo pagar o mal? Se pago o bem com o bem, devo pagar o mal com o mal? Confúcio respondeu: Pague o bem com o bem, e o mal pague com justiça.


Exercitando a caridade! Recentemente a televisão mostrou a reportagem de uma senhora que estava com uma depressão severa e que pegou um cãozinho para lhe fazer companhia, e só quem sabe o poder que estas criaturas têm, sabe como podem contribuir para a cura de uma doença como a depressão. Esta senhora, certamente estava evoluída interiormente, pois não guardou o benefício só para si, e hoje leva o cão a um hospital de crianças para que elas também tenham a oportunidade de se curar por um meio tão simples. Ela sabe que a caridade não se faz só com a mão no bolso.


Buscando a sabedoria! Há quem pense que a sabedoria só ocorre na idade adulta e não é assim, Rousseau também dizia que "não há verdadeira felicidade sem sabedoria e esta pode ser encontrada em qualquer estágio da vida". Que possamos continuamente buscar a sabedoria, não a erudição, mas a temperança, a sensatez.


Crescendo em amizade! Que triste quando ouvimos alguém dizer que seus amigos se conta nos dedos da sua mão. Triste porque deveríamos ter um número incontável de amigos verdadeiros... e isto é possível, basta criarmos as condições para que a verdadeira amizade floresça. Amigos são os que permanecem ao nosso lado independente das circunstâncias, por mais adversas que estas se apresentem.


Vivendo com entusiasmo! O crescimento interior depende, em parte, da energia que colocamos nele e viver sem entusiasmo é viver sem esta energia, precisamos trazer à tona o que de mais precioso existe em nós, que é a capacidade de crer no nosso deus interior. Buscar na essência etimológica desta palavra a força necessária para viver feliz.


Aproveitando intensamente o presente! Por mais que saibamos que nada podemos fazer para modificar o passado e que o futuro não nos pertence, temos muitas vezes a tendência de vivermos em um destes momentos; ou nos atormentamos com as imagens do passado ou sonhamos com uma parte da vida que ainda não chegou e assim desperdiçamos momentos significativos. Viva o presente, de preferência amando, porque esta existência é muito curta para centrarmos nossas energias fora do amor.


Sabendo reconhecer as fraquezas! Ninguém é perfeito, mas também não precisamos nos acomodar com as imperfeições, o crescimento interior acontece paulatinamente, mas a partir do momento que reconhecemos os pontos que precisamos melhorar, acelera o processo de transformação.


Promovendo a paz! A paz começa em casa e se projeta pelo mundo. A paz no trânsito, na escola, no trabalho, na sociedade. Que possamos verdadeiramente buscar e promover a paz, para que não tenhamos que escrevê-la em lençóis brancos estendidos sobre tragédias.


Mantendo a mansidão do espírito! Manter a mansidão do espírito não é ser inerte, mas ter equilíbrio suficiente para enxergar além de qualquer acontecimento, é ter uma visão estratégica em longo prazo, que permita ser e ficar equilibrado. Manso de espírito é quem está muito perto de uma profunda evolução pessoal.


Sendo altruísta! Embora todos os aspectos anteriores sejam características de pessoas altruístas, precisamos pensar no altruísmo como fonte de vida. Sem dúvida que parece uma grande utopia falarmos assim em um mundo tão perverso e desprovido dos melhores sentimentos. Mas façamos a nossa parte ensinada por Confúcio: Até que o sol brilhe, acendamos uma vela.


Sem regras, construamos o nosso caminho, pensando em uma vida melhor, em um mundo novo, cheio de alegria, de felicidade e paz. Permitindo que alguns chamem a isso de utopia, e que nós possamos chamar a isso de amor.


E finalizando com Gibran: Não digais – "Encontrei a verdade". Dizei de preferência – "Encontrei uma verdade". Não digais – "Encontrei o caminho da alma". Dizei de preferência – "Encontrei a alma andando em meu caminho". Porque a alma anda por todos os caminhos. A Alma não marcha em linha reta nem cresce como um caniço. A alma desabrocha tal um lótus de inúmeras pétalas.

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